O italiano Rosario Crocetta apela à criação de uma comissão anti-Máfia. Segundo o eurodeputado de esquerda, o fenómeno do crime organizado mafioso deixou de ser exclusivamente italiano e estendeu-se ao resto da Europa.

Entrevista do Dia: Apanhar a Máfia (versão integral)

https://api.multimedia.europarl.europa.eu/documents/20125/15164937/P001-90722-001-L-PT.srt

Rosario Crocetta, foi eleito   pelo Partido Democrático em Itália

e pertence à Aliança   dos Socialistas e Democratas.

Foi presidente da autarquia de Gela,   uma cidade na Sicília,

e é conhecido pelo seu   trabalho contra a Máfia.

Vive em Itália   sob protecção policial.

O que é que aconteceu? Não quer   continuar a lutar contra a Máfia?

De facto, ainda ocupo   o cargo de presidente da Câmara

e tenho até ao dia 29 deste mês   para escolher aquilo que quero fazer.

Já escolhi o Parlamento porque não   quero desapontar os eleitores sicilianos

Há um erro frequente   que é feito sobre a questão da Máfia.

Muita gente acha que a Máfia é um   fenómeno criminal local ou regional

que afecta sobretudo a Sicília   e no máximo o sul da Itália.

Mas o que sobressai das investigações   que levámos a cabo recentemente

é o facto de que,   apesar de a Máfia ser violenta

e controlar o território   na Sicília e no sul da Itália,

no Centro e no Norte   do país e no resto da Europa

a Máfia também faz   lavagens de dinheiro

que são importantes para   compreender as diferentes ligações

Acha que a Europa   tem força suficiente,

que tem os instrumentos   para atacar a criminalidade mafiosa?

Ou acha que lutar contra a Máfia e contra   o difícil desenvolvimento do país -

deve ser responsabilidade   do Governo italiano?

A Europa tem força suficiente   mas não pode utilizar essa força.

É evidente que estes problemas   estão claramente subestimados.

Não se pode pensar   ingenuamente que o dinheiro...

Os bancos na Suiça fazem   o que querem e nós não fazemos nada.

Mas a Europa não tem os instrumentos   jurídicos para fazer nada.

As ferramentas jurídicas   têm de ser criadas.

A primeira coisa que fiz   aqui no Parlamento Europeu

foi pedir ao Presidente Buzek,   assim que foi eleito,

para criar uma comissão   para investigar a questão da Máfia.

As pessoas não podem acreditar   que a Máfia é o que vêem nos filmes,

com os sicilianos a matarem-se   uns aos outros, de chapéu e espingarda.

Os Estados Unidos da América   tiveram grandes problemas

com a imigração italiana   do início do século XX

Nessa altura, os polícias irlandeses   encarregues da segurança pública

nos Estados Unidos não conseguiam   perceber como podia haver

senhores que se passeavam   elegantemente bem vestidos,

que respeitavam a família   e as relações sociais.

Não conseguiam ver   estes senhores como delinquentes.

Para eles os delinquentes eram   os criminosos que lutavam nos bares.

Não estavam habituados à Máfia,   que é um grupo bem organizado

e que trabalha sob pretextos falsos   para parecer normal.

A Máfia mudou   desde o final do século XX.

Hoje os mafiosos   estudam três línguas,

e os seus filhos estudam   nas melhores universidades do mundo.

Em que é que vai trabalhar caso a   comissão anti-máfia venha a ser criada?

que se ocupa das liberdades civis,   migração e segurança.

Estas são questões ligadas à Máfia mas   há outra que defendo que também o é

Temos de pensar não só em formas   de protecção ambiental - são essenciais -

mas também temos de investigar   esta questão da "ecomáfia".

As duas questões   estão intrinsecamente ligadas.

Hoje, o sector do lixo é uma das áreas   que atrai a criminalidade organizada.

Basta pensarmos   em todos os materiais tóxicos

E também estou   na Comissão das Petições.

Gostava de envolver os cidadãos   nestas batalhas que estou a travar,

Gostava que se interessassem por   esta Europa que ainda é muito jovem

Jovem tem, aqui,   uma conotação negativa.

A Europa deve ter uma grande   influência na vida de todo o continente,

Mas este papel está a ser retardado.   É como se a UE fosse um TGV

mas que em vez de ir depressa   vai muito devagar.

Rosario Crocetta, obrigada.   -Obrigado.