O co-presidente e recentemente eleito eurodeputado de esquerda alemão considera o resultado final das eleições europeias de 2009 como uma mistura de todos os géneros.

Entrevista: Lothar Bisky e os resultados eleitorais (versão integral)

https://api.multimedia.europarl.europa.eu/documents/20125/14579975/P005-00057-L-PT.srt

e ao Parlamento Europeu,   aqui em Bruxelas.

Foi eleito como cabeça-de-lista   do partido da Esquerda Alemã.

Na Alemanha, a Esquerda conseguiu   um resultado respeitável nas eleições,

embora não exactamente   o que as pessoas esperavam.

Mas em toda a Europa, como disse   no seu discurso pós-eleitoral,

o resultado da Esquerda Unida   foi mais decepcionante.

Quais os motivos da prestação   decepcionante da Esquerda?

Os nossos resultados variaram,   dependendo do país.

O Bloco de Esquerda português   elegeu três eurodeputados

e a nossa prestação em França   foi também boa.

Apesar dos medos   de não conseguirem assentos,

a Front de Gauche   garantiu cinco eurodeputados.

Melhorámos ligeiramente a nossa   posição, outros perderam votos.

A Esquerda era especialmente   forte em Itália

e para mim é desastroso não termos   lá conseguido qualquer assento.

À luz da crise económica,   poderia pensar-se

que os políticos de Esquerdas   apelariam ao eleitorado.

O que aconteceu em Itália   ultrapassa-me.

Estou boquiaberto   com o sucesso de Berlusconi

e com o fracasso da Esquerda, ou   melhor, com as suas grandes perdas.

Posso dizer que na Alemanha   há alguma apatia face à Europa.

As pessoas   que normalmente votam em nós

são essencialmente trabalhadores   e assalariados,

mas também desempregados   e pessoas carenciadas.

É difícil injectar nestes grupos   entusiasmo face à UE.

Outro factor foram as quezílias   internas no partido,

desde que Sylvia-Yvonne Kaufmann   se juntou aos Sociais Democratas,

algo que a liderança desse partido   explorou ao máximo.

As lutas internas fizeram mossa,   pois pela primeira vez em muitos anos

as pessoas pensaram   que a Esquerda estava dividida,

Reparei que,   onde começámos cedo a campanha,

conseguimos os resultados   respeitáveis que esperávamos.

Falemos rapidamente   das quezílias internas

e a saída de   Sylvia-Yvonne Kaufmann do partido.

Não foi uma questão pessoal,   foi por causa do manifesto.

Como eurodeputada, a Sra. Kaufmann   apoiava o Tratado de Lisboa,

que agora parece ser   um assunto tabu no seu partido.

A rejeição do Tratado tornou-se parte   da sua ideologia ou dogma.

O caso de André Brie foi similar,   houve diferenças fundamentais.

Brie e Kaufmann concorreram   para serem cabeças-de-lista,

mas não conquistaram   o apoio partidário.

No caso de André Brie, aceito que os   princípios partidários influenciassem,

mas não usaria a mesma análise   para o caso da Sra. Kaufmann.

As pessoas têm o direito   de trocarem de partidos políticos

Mas ela apoia o Tratado de Lisboa   e o partido rejeita-o.

Quando ela foi a nossa principal   candidata para as eleições europeias,

ela prometeu ao partido   opor-se ao Tratado de Lisboa.

Sempre respeitei   o ela ter mudado de ideias.

Na altura, a questão   era ainda o Tratado Constitucional,

que ela ajudou a redigir,   como parte da Convenção.

Exacto,   mas ela disse que votaria contra.

Como parte da liderança do partido,   ela envolveu-se na nossa análise

do Tratado de Lisboa,   que no final foi rejeitado.

Sempre respeitei e defendi   o facto dela o apoiar,

mas se 90% do partido está contra,   há que tomar uma decisão.

Falemos do Tratado de Lisboa   de uma forma mais geral.

Os partidos de Esquerda da Europa   vêem-no de forma muito negativa,

onde o referendo resultou   numa clara votação no 'não',

Já não há eurodeputados irlandeses   na Esquerda,

pois o candidato do Sinn Fein   não foi reeleito.

A campanha da Esquerda   contra o Tratado de Lisboa

Não, mas percebo   que haja quem possa discordar.

Sempre destaquei   os aspectos positivos do Tratado,

mas tem também planos de expansão   das capacidades militares da UE,

o que é inaceitável   para qualquer partido de Esquerda.

O progresso social não   está incluído na legislação primária

e como os Sociais Democratas   e os Verdes, queremos alterar isso,

em cooperação   com a Confederação de Sindicatos.

Não podemos aceitar o Tratado sem   uma cláusula de progresso social.

Rejeitamos também   o radicalismo do mercado

e exigimos   mais democracia directa na Europa.

Tal não significa que somos hostis   face à Europa ou à UE,

mas, infelizmente, não passámos   adequadamente essa mensagem.

Parte da imprensa também não   ajudou, mas não vamos por aí.

O dogma do 'Dizer não à Europa   é dizer não à UE' é ridículo,

como a doutrina 'Apoiar a paz   é apoiar Honecker', da RDA.

Argumentos simplistas e   pseudo-políticos não ajudam ninguém.

e entra pela primeira vez   no Parlamento Europeu.

O que pensa da antiga acusação   muitas vezes feita

contra o Parlamento na Alemanha   Ocidental, há 30 anos:

'Se tem um avô, mande-o   para a Europa. ' Aplica-se a si?

Sem dúvida, mas   vim voluntariamente para a Europa.